- TJ-MT: Jurada surda participa de julgamento de homicídio
Ulisses Lalio - TJ-MT
A Comarca de Campo Novo dos Parecis (396 km a noroeste de Cuiabá) contou com uma jurada especial durante sessão do tribunal do júri. A professora de libras Maria do Socorro de Figueiredo Alexandre, que é surda-muda, participou pela primeira vez do julgamento de um homicídio no município. A inclusão da jurada foi elogiada pela juíza responsável pela vara criminal da localidade, Cláudia Anffe Nunes da Cunha.
A magistrada enalteceu a participação da jurada e reforçou que ela não criou empecilhos para participar do julgamento. “Ela foi muito atenciosa e, apesar da limitação comunicativa que ela tem, não poupou esforços e se concentrou para entender todo o julgamento. Ela faz leitura labial e pôde acompanhar o andamento do processo de forma escrita. No fim das contas não deu desculpas para ser dispensada e comemorou poder participar de uma atividade de cidadania como é o júri. Muitas pessoas se esquivam de participar dos julgamentos, mas ela não! Isso foi um exemplo a ser seguido por todos nós de inclusão e participação cidadã”, comentou a juíza.
Por meio escrito, a jurada explicou que ficou honrada em participar do julgamento. “Senti-me privilegiada em compor a mesa dos jurados. Pensei que não fosse conseguir acompanhar a interpretação das leis, mas foi tudo muito tranquilo. Dava para entender e compreender perfeitamente, pois consigo fazer leitura labial e pude ler o processo e as peças defensivas dos dois lados”, disse.
Ainda conforme a jurada, há esperança de nova convocação e de participar de outros julgamentos. “Sempre que for convocada e sorteada pretendo participar. Tive medo no início, porque era um desafio novo. Fiquei ansiosa, mas quero vir novamente para aprender e melhorar minha participação na sociedade”, comentou.
Maria do Socorro é professora de libras e alfabetização para surdos, moradora de Campo Novo do Parecis. O nome dela foi selecionado em uma lista de profissionais liberais que vivem na cidade e sorteado na hora do julgamento. A sessão julgou o processo 84980 da vara criminal e condenou o réu Raimundo Rodrigues Cardoso por homicídio simples contra a vítima José Orlando. Segundo consta dos autos, o assassinato aconteceu no ano de 2016, após uma briga por um pen drive. O réu desferiu facadas contra a vítima usando uma faca de açougueiro.