Lislaine dos Anjos - Midianews
Quase três anos depois do crime, três dos cinco homens acusados de matar a empresária Ângela Cristina Peixoto da Silva Rezende, no Jardim Presidente I, em Cuiabá, irão enfrentar Júri Popular na próxima quarta-feira (20), a partir das 8h, no Fórum de Cuiabá.
O Tribunal de Júri será presidido pela juíza Mônica Catarina Perri Siqueira.
Acusados de terem sido contratados pelo marido de Ângela, Damião Rezende, para assassinar a esposa, sentam nos bancos dos réus Daniel Paredes Ferreira, Maycon José Cardoso Nogueira e Kleber Azevedo Santos – sendo este último apontando como o intermediador do acordo entre o marido e os executores.
Conforme consta nos autos, os três réus são acusados de homicídio triplamente qualificado, praticado mediante pagamento, com emprego de meio insidioso ou cruel e com recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima.
Damião Rezende, acusado de ser o mandante do crime, bem como um quinto elemento, Eduardo Bezerra do Nascimento – que confessou em depoimento à Justiça, em 2013, ter recebido um notebook para cometer o crime – tiveram seus processos desmembrados e devem ser julgados separadamente.
Todos os cinco envolvidos estão presos. Um sexto elemento, identificado apenas como “Marcelo” – que teria ajudado Kleber a negociar a execução da empresária – é citado no processo, mas ainda não foi encontrado.
Família quer justiça
A família de Ângela Peixoto afirmou que irá acompanhar o julgamento, assim como assistiram a todas as audiências, a fim de pressionar a Justiça para que os executores sejam condenados pelo crime. As informações são da sobrinha da empresária, Karine Peixoto, 19.
“O mínimo que podemos ter é justiça, ver que esse crime não ficará impune. Sabemos que a condenação não trará a minha tia de volta, mas foram três anos de espera e não queremos que a crueldade cometida contra ela seja esquecida”, disse.
Karine conta que a mais prejudicada em toda a situação foi a filha do casal, que na época do crime tinha sete anos, e que até hoje recebe acompanhamento psicológico.
“Ela é uma criança de dez anos, mas que amadureceu muito rápido. Ela é quieta, não consegue aproveitar datas comemorativas como dia das Mães, dos Pais, seu próprio aniversário. Ela chora muito ainda pela falta da mãe e não gosta que falem de sua morte e no nome do pai”, disse.
“Ele Damião agiu de uma forma tão cruel e fria, impulsionado por ganância, que nem se preocupou em como a filha dele ficaria, sendo que dizia que ela era o amor da sua vida”, desabafou.
Revogação de prisão
A defesa do trio que será julgado na próxima semana ingressou com pedido para revogação da prisão, aproveitando a realização do Mutirão Carcerário do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em Mato Grosso, o que foi negado pela juíza no último dia 4.
“Daniel e Maycon evadiram-se após o crime, sendo presos em outro Estado. Contra ambos foi instaurada ação penal onde se apura a prática do delito de tráfico de substância entorpecente. Kleber, por sua vez, é reincidente, porquanto foi condenado por crime anterior ...”, diz trecho da decisão.
A magistrada ressalta que Daniel e Maycon possuem antecedentes criminais e confessaram, durante as audiências de instrução, suas participações no assassinato da empresária – tendo usado do recurso de delação premiada para apontar Damião como o mandante do crime.
Eles revelaram, ainda, que estariam sendo ameaçados de morte.
“Segundo Daniel e Maycon, estão sendo ameaçados por terceira pessoa para assumirem a prática de um suposto latrocínio, descaracterizando, desta forma, o crime de homicídio praticado contra a vitima Ângela, no que, consequentemente, restaria afastada a figura do ‘mandante’”, alegou a juíza.
O julgamento do trio, já agendado, também foi usado como argumento para não conceder a liberdade aos acusados.
“A mantença permanência dos acusados no cárcere se faz necessária para garantia da ordem pública e da idoneidade da instrução criminal, que nos crimes dolosos contra a vida se encerra apenas após a segunda fase do procedimento, com o julgamento dos réus perante o Tribunal do Júri, e, ainda, para assegurar a aplicação da lei penal”, conclui a juíza.
O crime
Conforme denúncia feita pelo Ministério Público Estadual (MPE), na noite de 15 de novembro de 2011, por volta das 23h30, Daniel e Maycon, de porte de uma faca, causaram dezenas de perfurações na empresária, quando ela se encontrava dormindo na cama.
“O crime em questão é gravíssimo, não somente por versar sobre homicídio qualificado, mas porque foi praticado, em tese, mediante concurso de cinco pessoas, onde, por motivo mercenário, a vida de uma pessoa, mãe de família, foi ceifada de maneira brutal – mediante 24 golpes de faca – quando já estava com as mãos amarradas para trás, com um cadarço de sapatênis, tanto é que o crime é qualificado pela motivação torpe, pelo emprego de meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vitima”, diz trecho da decisão da juíza.
A denúncia aponta que o marido de Ângela teria encomendado o crime por R$ 3 mil, tendo pago R$ 1,5 mil para Daniel e prometendo a quitação da outra parcela após o crime ter sido concluído.
Kleber Santos seria o intermediador da execução, em parceria com o rapaz ainda não encontrado, identificado como “Marcelo”.
Damião ainda teria dado permissão a Daniel e seus comparsas para que levassem todos os eletrodomésticos, joias e veículos que pudessem levar da residência.
Após executarem Ângela, Daniel e Maycon fugiram na caminhonete da vítima, em direção a Corumnbá (MS), onde pretendiam vender o veículo, mas foram presos em flagrante na barreira do Posto do Guaicurus, em Miranda (MS).
“Na oportunidade foi feita a checagem da caminhonete e verificou-se tratar-se de produto de roubo ocorrido na noite anterior, nesta Capital. Indagados sobre o suposto latrocínio, Daniel e Maycon acabaram por confessar que na verdade se tratava de um crime de homicídio encomendado pelo marido da vítima Angela Cristina Peixoto”, afirmou a juíza, nos autos.
Na casa de Maycon, em Cuiabá, teriam sido encontrados todos os objetos roubados da casa da vítima, além de 30 kg de cocaína que, segundo a dupla, havia sido encontrado em uma das malas retiradas da casa da vítima, debaixo de uma das camas da residência.
O marido de Ângela foi detido durante o enterro da mulher, no Cemitério Parque Bom Jesus, em Cuiabá.
Na ocasião, a Polícia Civil concluiu o inquérito afirmando que Damião teria sido motivado por seu envolvimento com o tráfico de drogas, além da cobiça pelos bens da mulher.
Além de acusado de ser mentor do crime, ele também irá responder na Justiça por tráfico de entorpecentes.
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