Raquel Ferreira - Jornal A Gazeta
O pedreiro Jeanderson Xavier Rangel, 25, foi condenado a 43 anos e 10 meses de prisão, em regime inicialmente fechado, pelos assassinatos da ex-namorada, a estudante Ariely Lopes, 21, e do filho do casal, o menino Hemilton Jorge Rangel, 4. A sentença foi lida pela juíza Mônica Catarina Perri Siqueira, após 10 horas de julgamento. Os jurados entenderam que o acusado praticou homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e emboscada) contra a ex-namorada e triplamente qualificado (motivo torpe, meio cruel e emboscada) contra o filho. Para o policial militar Hemilton Lopes, 47, pai e avô das vítimas, a Justiça foi feita, embora a prisão do culpado não elimine a dor provocada pela morte dos familiares. “Espero que o Jeanderson use esse tempo preso para refletir sobre o que fez, pensar na vida dele e saia uma pessoa melhor. Tomara que não use a cadeia como uma universidade do crime, como muitos fazem”.
Durante o julgamento, Hemilton destacou não ter mágoa de Jeanderson, a quem sempre tratou bem, sem desentendimentos. “Não vou me apegar a isso, porque faz mal para mim, para minha família. A Justiça foi feita, vamos seguir a nossa vida, apesar de toda saudade da Ariely e do Tinho”. O policial comenta que a família começará a militar em combate à violência doméstica, um tema que jamais imaginou viver dentro de casa. Relembra que na época dos assassinatos estava concluindo faculdade de Direito e o Trabalho de Conclusão de Curso abordava justamente a violência contra a mulher. “Defini o tema no começo da faculdade, sem nunca imaginar que viveria tão de perto. Apresentar o TCC foi um sofrimento muito grande”.
O julgamento teve início às 13h30 e encerrou às 23h30, com leitura da sentença. No decorrer da tarde, 5 testemunhas, 4 de acusação e uma de defesa, foram ouvidas. Jeanderson apresentou uma terceira versão sobre o que ocorreu na data dos homicídios. Disse que o tiro que atingiu a cabeça de Hemilton foi disparado durante um desentendimento com Ariely, que segurava a arma. Já a ex-namorada foi alvejada 2 vezes na cabeça e uma no braço durante um acesso de raiva. Contou que tentou socorrer o filho e ao mesmo tempo tomar a arma da mulher. Para o promotor de Justiça, João Veras Gadelha, os fatos relatados pelo condenado não fazem o menor sentido.
Com base na quebra de sigilo telefônico de Jeanderson, a promotoria apresentou o trajeto percorrido pelo acusado na data tos crimes e defendeu a condenação por homicídios com qualificadoras. Denúncia do MPE aponta que ele matou para se livrar do pagamento de pensão e nova responsabilidade, quanto a suposta gravidez da vítima. O defensor público José Evangelista tentou excluir as qualificadoras, buscando uma condenação por crime de homicídio privilegiado, em relação a Ariely, e culposo, quanto ao menino. Segundo a defesa, a insistência da vítima em reatar o relacionamento e as constantes ligações para o acusado podem ter contribuído para o desfecho trágico. Ariely e Jeanderson começaram a namorar quando a vítima tinha 15 anos e ela engravidou em seguida. Embora nunca tenham casado, eles mantiveram relacionamento assumido perante a família até o acusado ser preso e condenado pelo crime de roubo a mão armada. Mesmo Jeanderson namorando outras mulheres, ele mantinha relações com a estudante, que dias antes da morte afirmava estar grávida do segundo filho.
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